Como muitos dos grandes projetos, a ideia surgiu de conversas entre amigos. No final 2013, Rui Pimenta e outros jogadores de padel resolveram criar uma competição que resolvesse as dificuldades que encontravam para conseguirem jogar regularmente e, num abrir e fechar de olhos, o evento, que começou por se chamar Fórum Padel, ganhou dimensão. Dez anos depois, a Liga Padel Box é uma das provas de referência do padel português e, ainda hoje, Rui Pimenta continua a garantir que não conhece “nenhuma competição por duplas com estes números” a nível mundial. Atingindo “consistentemente” os mil inscritos e cerca de 2000 jogos por edição, a Liga Padel Box pretende continuar a crescer, sempre com o “objetivo da melhoria continua” da prova, que, a curto prazo, passará a contar com “edições mais dinâmicas”.

Como surgiu a ideia de criar a Liga Padel Box?
Tudo começou há 10 anos, quando alguns amigos que jogavam padel iam a muitos torneios de clubes, mas esses torneios não os preenchiam e até criavam dificuldades logísticas, por alguns já terem família e filhos. Isso levou-nos a procurar outro género de competições, sobretudo em horários em que podíamos jogar, que eram durante a semana em período pós-laboral. Pensamos em fazer uma liga e fomos amadurecendo a ideia. Rapidamente, de um grupo de cinco ou seis pessoas que foi falando disto ao longo de algumas semanas, a coisa ganhou vida. Quando abrimos as inscrições, rapidamente chegamos a 16 duplas para a primeira liga – que na altura de chamava Fórum Padel apenas para termos uma chancela. Muitas das pessoas que jogavam participavam nesse fórum, que eu tinha criado pouco tempo antes.

Como era o formato da primeira liga?
A primeira edição foi a única que durou quatro meses e jogávamos num formato de todos contra todos. Foi muito extensa e, na segunda edição, já reduzimos para um formato mais pequeno. Os quatro meses de competição foram exigentes para manter a malta sempre motivada. A meio dessa primeira edição, apareceu um grupo de raparigas, que também queriam algo assim para elas, e, mais tarde, ainda na primeira edição, lançamos uma liga feminina no Indoor Padel Center, o clube onde disputamos a primeira edição.

Na altura, final de 2013, como era feita a organização e logística da prova?
Era controlado com uma folha de Excel que eu montei. Aí registávamos os resultados e calculávamos as classificações. Não havia, como agora, grupos de WhatsApp. Era tudo muito familiar, entre amigos. Surpreendente, no final dessa primeira edição, alguns clubes vieram falar connosco por que queriam a liga. Assim começou, no passa a palavra. Não havia redes sociais, não havia nada…

O que é hoje a Liga Padel Box?
Crescemos para vários pontos do país. Temos agora 18 ligas e presença nas ilhas. Estamos com uma presença geográfica que vai desde o Minho até ao Sul, com o apelo de, no final do ano, haver o Master onde estarão em confronto todos os vencedores.

Continua a ser a maior Liga Social de Padel do Mundo?
Isso surgiu de conversas que tivemos com pessoas em Espanha, que ficaram surpreendidas com os nossos números. Disseram-nos que em Espanha não havia nada com a dimensão da nossa competição. Nos contactos que temos feitos com outros pontos do globo, do que conhecemos, continua a não haver nenhuma competição por duplas com estes números… Em Espanha, sei que há uma prova maior, mas é por equipas.

Quais são os números atuais da Liga Padel Box?
Estamos consistentemente acima dos mil inscritos. Curiosamente, os recordes ocorreram em períodos de pandemia, quando houve a libertação para a prática desportiva. A fome era tanta de padel, que batemos recordes. É apelativa a dimensão atual, por que quando mais inscritos houver, mas competitiva e interessante se torna a liga para os jogadores.

Quais são as maiores dificuldades que encontram?
Temos duas grandes dificuldades. Uma é a resposta dos jogadores. O nosso modelo baseia-se numa interação entre os adversários para o agendamento dos jogos. Fornecemos todas as ferramentas e temos muitas métricas de acompanhamento e controlo destes contactos. Fazemos um acompanhante muito extensivo ao longo da competição. No entanto, as duplas têm de falar entre elas e há duplas que colocam dificuldades. Isso pode criar obstáculos a que outras duplas realizem os seus jogos. Estamos sempre a acompanhar isso e temos mecanismos para intervir e agilizar as marcações. Ainda assim, num universo de 2000 jogos em oito semanas, temos taxas médias de execução dos jogos na cada dos 90%. Mesmo com dificuldades, as coisas concretizam-se. Mas queremos diminuir esses 10%… O segundo ponto é o da competitividade. Como disse, quanto maior for a liga, maior será o número de divisões que conseguimos montar e mais apelativa fica a competição. Já chegamos a ter 12 divisões e isso permite escalar as duplas e tornar as divisões mais homogéneas. O volume permite que os jogos sejam mais interessantes. A permanência das duplas permite-nos ter um maior conhecimento do nível e fazer ajustes.

Que objetivos têm para o futuro?
O objetivo da melhoria continua. Em todas as edições temos novidades, nem que sejam tecnológicas. Há outras mudanças de fundo que queremos implementar em breve. Uma delas é a alteração do modelo competitivo. Temos feito um modelo de divisões, com todos contra todos, e depois haver subidas e descidas. Para tentar combater alguma desmotivação que possa existir, temos vindo a refletir numa alteração que permita uma competição mais dinâmica, combinando jogos de grupos com uma fase final. Isso permitiria edições mais dinâmicas. Queremos também continuar a fazer um grande investimento no desenvolvimento informático da nossa aplicação, de forma a combater os problemas das dificuldades nos contactos e respostas dos jogadores.

A primeira edição de 2024 arranca a 29 de Janeiro e as inscrições até 3 de Janeiro. Haverá novidades?
Vamos ter nesta edição duas novas ligas: Ribatejo, que apanha a zona de Tomar, Torres Novas, Ourém, e Douro Vouga, que será a zona dos concelhos de Santa Maria da Feira, Ovar, Oliveira de Azeméis…

O que mudou no padel português nestes 10 anos de Liga Padel Box?
Muita coisa. Os nossos objetivos no início eram de ter um modelo competitivo que fugisse aos torneios de fim-de-semana, que era mal organizados. Procurávamos algo com melhor organização e em horários mais favoráveis. Nessa altura, não havia nada. Quem quisesse jogar numa terça-feira à noite num formato competitivo, não tinha nada. Só havia ao fim-de-semana. Hoje tens uma larga oferta. Há sempre coisas em aberto. É muito mais fácil. Temos feito um esforço para nos adaptar, para que a liga se mantenha atrativa.

O perfil de jogadores também mudou?
Sim, quando começamos tínhamos muitos jogadores de 30, 40, 50 anos. A nossa pirâmide etária estava muito direcionada para esses jogadores. Hoje, temos muitos jovens a jogar, que procuram ter competitividade e até se inscrevem com o pai ou a mãe. A pirâmide começa a ficar esbatida, com divisões que vão desde o nível 5 ao 2.