
Após falar na primeira parte da entrevista ao Padel 365 sobre o seu percurso como arbitro internacional, onde já teve a oportunidade de estar em 11 finais do World Padel Tour, Nuno Moreira aborda na segunda parte da conversa o seu futuro e o atual momento do padel português. Admitindo que ainda não sabe se terá a oportunidade de fazer parte dos quadros dos árbitros no Premier Padel, Nuno Moreira diz que fica “triste por estar no WPT e não ver nenhum português a jogar no circuito masculino”, alerta para a falta de apoios para os jovens atletas e, analisando os resultados das seleções jovens no XIV FIP Juniors World Padel Championship, lamenta que “em vez de evoluir, o padel português” esteja “a regredir”.
O World Padel Tour vai acabar este ano. Há a hipótese de ficar na equipa de arbitragem do Premier Padel?
Até ao momento, ainda não houve conversas sobre absolutamente nada. Ninguém dentro do World Padel Tour sabe bem o que vai acontecer. Não só da nossa equipa de árbitros, mas mesmo os funcionários não sabem se vão continuar. A empresa não sabe dar respostas e eu acho que isso está errado e não deveria acontecer. A situação do padel mundial está complicada, até por todas as guerras que tem havido entre os circuitos e os jogadores. Não será fácil que as coisas no próximo ano andem estruturadas, como andarem neste. Já se fala que, em vez dos 24 torneios do Premier, serão 16… A coisa está a complicar. Gostava de continuar, mas será difícil continuar com o mesmo estatuto. A FIP tem os seus árbitros. O feed back que temos é que serão precisos mais árbitros, mas até ao momento, não sabemos de nada.
Essas dificuldades estão a surgir por que motivos?
Por várias coisas. Acho que era preciso fazer-se alguma coisa porque o desporto, à escala que tem, não devia continuar a ser privado, mas também acho que os jogadores podem estar equivocados por quererem ter o poder em relação a quase todas as decisões. Acho que isso é complicado. Em mais nenhum desporto os jogadores têm tanto poder de decisão, como estão a ter no padel.
Como é que o padel português é visto fora de Portugal?
Ajuda que muitos dos jogadores mais conhecidos estejam a viver em Madrid. Já não é indiferente para os treinadores ou jogadores falar-se de um Peu, de um Fazendeiro, do Henrique. A Sofia e a Noggy estão numa escala à parte, que já faz parte da elite. Se olharmos para o crescimento de clubes em Portugal, o que faz falta é investir na competição. Atualmente, quem quer ser profissional em Portugal e queira ter sucesso internacionalmente, tem de sair do país. É o que tem acontecido com os mais jovens.
Sente que a falta de aposta na competição está a resultar numa regressão a nível de resultados internacionais?
Sinto isso. Fico triste por estar no WPT e não ver nenhum português a jogar no circuito masculino. Sei que é complicado do ponto de vista monetário para eles, por que nas previas podem perder dinheiro. Mas é ali que estão com os melhores. Vejo jogadores nas previas de 17 ou 18 anos, que estão a fazer o seu caminho e os portugueses têm de passar por isso. Pode custar gastar 500 euros num voo, fazer um jogo e vir embora, mas vejo suecos, franceses e italianos a apostarem nisso. E, infelizmente, eles estão a passar à nossa frente.
Olhando para o panorama atual e excluído a Sofia Araújo e a Ana Catarina Nogueira, é irrealista pensar que voltaremos a ter a curto ou médio prazo um jogador do top-50 mundial…
Sem dúvida. Olhando para os quadros dos torneios em Portugal, faz-me confusão ver um torneio feminino com 15 ou 16 duplas no máximo em F1. É que se jogarem as melhores, ganham as melhores. Depois, a seguir há a geração da Patrícia, da Katia, da Maggie, da Vilela, mas não vejo uma aposta em novos valores. E no masculino, os Deus, o Perry ou o Henrique já têm vinte e muitos… Isto resulta da base que temos em Portugal.
Essa base já não devia estar criada? Falta uma política de formação em Portugal?
Tem de haver apoios. Não estou por dentro dos projetos da federação, mas tem de haver um investimento na base. Nos miúdos que têm 10, 11 ou 12 anos, que têm de ser o futuro. E isso não pode acontecer com os circuitos de jovens que temos. Com o que há, eles não vão evoluir. Não há a mínima competição. Tem de haver uma forma desses miúdos darem o passo em frente. A maior parte, vai chegar aos 20 ou 21 anos e, ou desistem, ou continuam por Portugal a dar aulas. Serem profissionais nos circuitos internacionais, é impossível.
Como analisa os resultados de Portugal no XIV FIP Juniors World Padel Championship?
Sou muito patriota e muito exigente. Odeio vitórias morais. Acho que foi a primeira vez que não passamos da fase de grupos [em masculinos] e preocupa-me perder por 3-0 contra o México, que era uma seleção a quem ganhamos sempre. Se me falarem de jogadores mexicanos, não conheço nenhum… Não sei quais vão ser as consequências disto ou se haverá algumas mudanças depois de uma coisa desta, embora pense que vai continuar tudo na mesma. No Mundial anterior, em que jogamos e ficamos em quarto lugar, a Argentina tinha o Tapia e o Chiostri… A Espanha tinha o [Javi] Garrido, o Chipi [Jaime Muñoz]… Eram seleções de estrelas. Passados tantos anos, em vez de evoluir, o padel português está a regredir.
Recentemente foi disputado em Portugal o FEPA European Absolutes Championship 2023. A nível internacional, que comentários ouviu sobre a competição que Portugal ganhou?
Absolutamente nenhuns. É algo que passou completamente ao lado de todos, tal como se houvesse, por exemplo, um torneio da federação valenciana. Dão a mesma importância.
Apesar de já ter arbitrado oito finais do WPT este ano, não tem estado nos principais torneios da federação em Portugal…
Desde 2020 não arbitro qualquer torneio que seja organizado diretamente pela FPP. Fiz alguns do circuito nacional, nomeadamente todos organizados pelo clube Galitos em Aveiro, os da Quinta de Monserrate e, este mês, fiz o do Your Padel, no Porto. Para a FPP, não tenho feito absolutamente nada.
Qual o motivo?
Quero acreditar que não se proporcionou. Mas sendo um árbitro português, também sinto alguma mágoa por a única vez que recebi alguma palavra [da federação] pelo meu trabalho lá fora – que acho que merece algum reconhecimento -, foi em Toulouse, quando arbitrei uma final. E sei que foi por pedirem e quando já havia comentários por haver um árbitro português nas finais e ninguém dizer nada.